Cinema Promotora: o animatógrafo chega a Alcântara

Na segunda década do Séc. XX, o animatógrafo transformara-se no passatempo favorito dos lisboetas, contribuindo para o aparecimento de inúmeras salas dedicadas a este entretenimento. Geograficamente as salas deixaram de se situar exclusivamente no Chiado e passaram a localizar-se no eixo Rossio-Avenida da Liberdade, como também noutros bairros pitorescos da cidade como Alcântara, Graça, Estefânia, Alfama, Campo de Ourique, Poço do Bispo e Lapa.

O Cinema Promotora, localizado bem no centro de Alcântara no Largo do Calvário, surgiu em 1912 no primeiro andar da Sociedade Promotora de Educação Popular (instituição fundada em 1904 e estabelecida neste local desde 1911). O edifício em questão era a antiga cocheira do Palácio Real e foi originalmente construído na segunda metade do séc. XVI.

Este espaço (para além de casa de ilustres residentes) foi utilizado numa vertente cultural, tendo em 1903 se instalado no local o Clube de Lisboa (também conhecido por Clube do Calvário), passando depois a Centro Marques Leitão, vindo a acolher finalmente a Sociedade Promotora de Educação Popular.

No ano seguinte (e para fazer face aos encargos), a Promotora instalou no primeiro andar deste imóvel um cinema, apesar das instalações precárias.

Localizado numa zona deveras populosa, a gerência da Promotora resolveu proceder à construção de uma nova sala cinematográfica, de modo a fixar e ampliar o seu público, como também a garantir maiores rendimentos financeiros para possibilitar mais actividades culturais e educacionais dentro da colectividade.

Em 1929, a Promotora (presidida por Manuel Nunes Salvador) encetou a construção de um novo cinema dentro do próprio edifício da sede e no sector correspondente à parte posterior do mesmo, com entrada para o Largo do Calvário.

Com a aprovação feita pelas entidades competentes, o novo cinema foi inaugurado em 1930 possuindo uma sala ampla com uma plateia, 1º e 2º Balcão, tendo como lotação 480 lugares.

No ano seguinte, este cinema foi equipado com aparelhagem Western Electric (na altura uma das marcas mais conceituadas de material de exibição), tornando-se assim num dos primeiros cinemas de bairro a oferecer ao público o filme sonoro.

Com o decorrer dos anos este espaço sofreu algumas alterações, tendo funcionado até aos meados da década de 1980.

Actualmente, continua a desenvolver a actividade educativa funcionando no primeiro andar um externato. No rés-do-chão, está instalada a Videoteca, um pequeno auditório, uma ludoteca e uma biblioteca, especializadas em meios audiovisuais.

 

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1940-Cinema-Promotora
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1930-Largo-do-Calvrio
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Largo do Calvário, cocheiras de Alcântara
Largo do Calvário, cocheiras de Alcântara
Largo do Calvário 1965
Largo do Calvário 1965
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O primeiro numero do Jornal “ A Educação Popular “ 1909
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O primeiro numero do Jornal “ A Educação Popular “ 1909
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O primeiro numero do Jornal “ A Educação Popular “ 1909
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O primeiro numero do Jornal “ A Educação Popular “ 1909

 

O Largo da póvoa do Calvário e do Salão da Promotora

O Largo do Calvário acolheu em 1912 o cinema Salão da Promotora,  no 1º andar da Sociedade Promotora de Instrução Popular, fundada na Rua de Alcântara em 30 de setembro de 1904 e instalada neste Largo a partir de 1911.

O Salão da Promotora nasceu para fazer face aos encargos da associação. Em 1929, a coletividade começou a construir um novo cinema no próprio edifício, que foi inaugurado em 1930 com 480 lugares e que funcionou até meados dos anos 80 do século passado. No rés-do-chão da Promotora encontra-se desde 1992 a Videoteca Municipal.

O topónimo Largo do Calvário resultou de uma deliberação camarária de 22 de setembro de 1888 e assim permaneceu 27 anos, até o Edital municipal de 14 de outubro de 1915 o designar como Largo 20 de Abril, a perpetuar a Lei de Separação do Estado das Igrejas, redigida por Afonso Costa, Ministro da Justiça e Cultos do Governo Provisório, e publicada no dia 20 de abril de 1911. Passados quase 22 anos, o Edital municipal de 19 de agosto de 1937 voltou a denominá-lo como Largo do Calvário, seguindo a norma Do Estado Novo, iniciada nessa década, de substituir os topónimos dados no tempo da I República pelos que os antecederam.

Sobre a origem do topónimo Calvário damos como boa a investigação de Norberto de Araújoque justifica o nome «Porque neste sítio, no lado sul da Rua Primeiro de Maio, antiga de S. Joaquim, existiu um Convento, das religiosas franciscanas, e que datava de 1617.» O olisipógrafo  esclarece ainda que «(…)  no século XVII, e mesmo no XVIII, o Calvário pouco mais era do que uma Póvoa aflorando timidamente de entre quintas, herdades e hortas a norte, com o mar a beijar-lhe a orla por edificar. Antes do Convento se erguer no lugar onde a Quinta do Pôrto (do “porto”, porque aqui atracavam barcos) edificara-se no final do século XVI um solar particular, destinado a ser “alguém” no sítio: foi esse solar que deu o Palácio ou Paço Real do Calvário, mais rigorosamente “de Alcântara”, mas que recebeu a designação invocativa do orago do Convento, seu fronteiro, e assim ajudou a fundamentar o nome de um sítio (Calvário) dentro de outro (Alcântara). »

INSTALAÇÕES

História do Local 
No Largo do Calvário em Alcântara no edifício da Promotora, antigas cocheiras do Palácio Real.

ALCÂNTARA
Cujo étimo de origem árabe significa “a ponte” surge pela primeira vez num alvará régio do reinado de D. João V e era na altura constituída essencialmente por palácios, conventos e quintas. No século XVI a ribeira de Alcântara era tão larga que permitia a navegação, mesmo nos seus dois afluentes, os riachos da Pimenteira e do Alvito, onde os nobres costumavam passear de barco. Ao longo da segunda metade do século XIX, Alcântara vai adquirindo os traços típicos de uma zona industrial e popular, onde surgem inúmeras pequenas fábricas e armazéns populares.
A Feira de Alcântara, em frente da estação de Alcântara-Mar, era muito animada por volta de 1900. Foi um dos locais privilegiados dos teatros populares onde, na época, actuavam as mais famosas estrelas, como Júlia Mendes ou Maria Vitória.

Desaparecida a ribeira de águas cristalinas frequentada por inúmeras lavadeiras, demolido o mercado construído no início do século XX no local onde hoje confluem a actual avenida de Ceuta e a via de acesso à ponde sobre o Tejo, desactivadas as antigas fábricas, pouco resta daquilo que caracterizou Alcântara ao longo das várias épocas. Nem mesmo o seu ex-libris, a chaminé de tijolo da era industrial, conseguiu resistir à inevitável erosão do tempo.

LARGO DO CALVÁRIO
O topónimo deve a sua designação ao Convento das religiosas franciscanas que foi construído na então designada Quinta do Porto, por invocação ao Monte Calvário. O Convento, fundado em 1617, veio a ser totalmente destruído pelo terramoto de 1755, morrendo sob os seus escombros 32 religiosas.
Situemo-nos no Largo do Calvário, em Alcântara, onde avulta o edifício verde da Promotora (a velha e benemérita Sociedade Promotora de Educação Popular, fundada em 1904, neste local desde 1911).

PALÁCIO
Está instalada no que resta do Palácio Real de Alcântara (as cocheiras), actualmente conhecido por edifício da Promotora (a velha e benemérita Sociedade Promotora de Educação Popular, fundada em 1904, neste local desde 1911). Originariamente construído na segunda metade do século XVI, o imóvel teve como primeiro proprietário João Baptista Rovelásco, gentil-homem milanês, a quem, D. Felipe II de Espanha o viria a confiscar em 1580.
O antigo solar, mais tarde Palácio Real de Alcântara ou simplesmente Palácio do Calvário, serviu, até 1662, para veraneio de D. João IV e família. Aí residiram também D. Pedro II (que nesse local veio a falecer em 1706), seu irmão D. Afonso VI e o infante D. António (4º filho de D. Pedro II) que nele habitava quando o terramoto de 1755 quase o destruía por completo. Passados dez anos, o Palácio Real de Alcântara já estava de novo de pé; perdera a sua grandiosidade mas, ainda assim, continuava a ser uma agradável residência para condes e outros aristocratas que aí viveram até 1878, altura em que foi adquirido à Casa de Bragança pelo industrial Eduardo Conceição e Silva que, por sua vez, o viria a deixar por herança a Augusto Serra e Costa.

PROMOTORA
Para além dos ilustres residentes que se sucederam ao longo dos séculos, o edifício teve também uma utilização cultural. Em 1903 instalou-se aí o Clube de Lisboa (também conhecido por Clube do Calvário), depois passou a Centro Marques Leitão, vindo, finalmente, a acolher em 1911 a Sociedade Promotora de Educação Popular. Esta instituição, actual proprietária do imóvel foi fundada em 1904, no nº 25 da actual Rua Leão de Oliveira por um grupo de entusiastas da instrução e educação do povo, transferindo-se pouco depois para a Rua de Alcântara, nº 6. Em 1912, para fazer face aos encargos, a Promotora instalou no primeiro andar do edifício um cinema, tendo posteriormente, em 1931, adquirido o imóvel e construído no rés-do-chão um cinema mais moderno, que viria a funcionar até meados da década de 80. Actualmente, a Promotora continua a desenvolver a sua actividade educativa, funcionando no primeiro andar um externato onde é leccionado o 1º Ciclo do Ensino Básico.

 

Externato da Sociedade Promotora da Educação Popular

 

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1911-Festa-Anual-presidida-Machado
Saber mais: A_Promotora_apresentação

 

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Largo do Calvário de hoje

 

 

 

 

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